Cantora maranhense Anastácia Lia denuncia ter sido vítima de injúria racial em condomínio no RJ; 'virou favela sim, senhora'
30/01/2025
Anastácia Lia e outras três artistas estão no Rio de Janeiro para se apresentarem no musical 'Martinho, Coração de rei Musical', em homenagem ao sambista Martinho da Vila. Cantora maranhense Anastácia Lia é vítima de injúria racial no Rio de Janeiro
A Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Maranhão (OAB-MA) está acompanhando, por meio da Comissão da Verdade da Escravidão Negra no Brasil, junto com a comissão da OAB do Rio de Janeiro, o caso de injúria racial denunciado pela cantora maranhense Anastácia Lia na capital do Rio.
O crime foi denunciado à polícia carioca pela cantora Anastácia Lia e as artistas Roberta Gomes, Negra Vat e Daniela de Jesus, que estão no Rio de Janeiro para se apresentarem no musical “Martinho, Coração de rei Musical”, em homenagem ao sambista Martinho da Vila.
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Segundo as artistas, o caso de injúria racial aconteceu no dia 26 de janeiro deste ano, quando um homem e uma mulher se incomodaram com a presença delas em uma área comum do prédio em que estão residindo, no bairro do Flamengo. O casal teria dito que “aquele não era lugar para elas” e que o prédio estava parecendo uma “favela” com a presença das artistas, que são todas negras.
Cantora maranhense Anastácia Lia denuncia ter sido vítima de injúria racial em condomínio no RJ; 'virou favela sim, senhora'
Reprodução/TV Mirante
“Na noite do dia 26, logo que a gente chegou em casa, aqui no apartamento que a gente tá residindo durante a temporada, aqui no Flamengo, nós fomos ofendidas. Nós fomos agredidas pelo morador, que ele funcionário, na verdade, é o porteiro chefe. Ele nos ofendeu. A gente estava na área externa, duas de nós fumam cigarro, elas estavam fumando cigarro lá embaixo. Foi no momento em que ele saiu se dizendo incomodado com a fumaça, sendo que nós estávamos na área externa do prédio, local onde várias pessoas, moradores têm o hábito de fumar. Inclusive, a gente questionou para ele que no regimento interno do prédio e também na área externa não tem nada que diga que não pode fumar, que não é uma área que seja permitido fazer o que a gente estava fazendo”, relatou Anastácia Lia.
Cantora maranhense Anastácia Lia denuncia ter sido vítima de injúria racial em condomínio no RJ; 'virou favela sim, senhora'
Reprodução/TV Mirante
A polícia foi acionada e o caso foi registrado no 9º Distrito Policial, no Catete, no Rio de Janeiro.
“Na porta da casa dele tinha uma mulher, que no caso é a esposa dele. E quando eu fui até lá, ela confirmou e disse que o prédio parecia uma favela sim, senhora. Então, tendo essas imagens na mão, a gente ligou pra polícia, a gente fez um Boletim de Ocorrência e vamos levar essa história até o final”, afirmou Negravat.
A Comissão da Verdade da Escravidão Negra no Brasil, da OAB-MA, já está acompanhando o caso, junto com a comissão da OAB do Rio de Janeiro. O objetivo é garantir que os órgãos de justiça responsabilizem os envolvidos e combatam o racismo.
“Cheio de preconceitos e uma fala problemática do ponto de vista jurídico, porque elas configuram crime. Quando você discrimina uma pessoa em razão, seja de um contexto de desigualdade social ou de contexto racial, você está inserindo ali num comportamento que é passivo de penalização legal”, explicou a advogada Heliane Fernandes, membro da Comissão da Verdade da Escravidão Negra no Brasil, da OAB-MA.
Esse é o segundo caso de racismo registrado este ano, segundo a OAB. A entidade também alerta para a subnotificação de casos, já que muitas vítimas não denunciam por medo ou por falta de confiança no sistema de justiça.
O outro caso foi no dia 17 de janeiro dentro de um supermercado em São Luís.
“O caso de uma advogada com o filho, que sofreram uma questão de racismo em um supermercado da cidade. Esse caso, de fato, ele foi formalizado aqui na OAB, e a OAB tem acompanhado os desdobramentos disso por meio da Comissão de Direitos Humanos”, destacou Heliane Fernandes.
As artistas reforçam a importância de denunciar casos de racismo para que crimes como esse não fiquem impunes.
“A gente está aqui no Rio de Janeiro numa temporada linda, com o espetáculo ‘Martinho Coração de Rei’, justamente com um texto, uma dramaturgia de Helena Teodoro, falando desses recortes étnicos raciais, falando da nossa ancestralidade, cantando o nosso panteão africano, que é tão lindo, celebrado. E tem esse recorte, inclusive, que a gente fala de aliados em relação à branquitude. E é inadmissível que nós, artistas que estamos aqui levando arte pras pessoas, sejamos tratadas dessa forma”, destacou Anastácia Lia.